Pintora
Maria Amélia de Magalhães Carneiro
(2.3.1883 - 19.2.1970)
Maria Amélia de Magalhães Carneiro nasceu a 2 de Março de 1883 na freguesia de Cedofeita, no Porto, cidade onde faleceu a 19 de Fevereiro de 1970, aos 86 anos. Filha de José Bernardo Dias Carneiro e de Júlia Caldas Moreira de Magalhães Carneiro, era a mais nova de cinco filhos, tendo ficado órfã de mãe aos 6 anos de idade.
Vendendo castanhas - Porto 1912 |
Laços familiares ligam-na a alguns vultos da cultura portuguesa: ao poeta portuense ultra - romântico António Pinheiro Caldas (1824-1877), seu tio-avô; ao Cardeal D. Américo Ferreira dos Santos Silva (1830-1899), ao pintor António Carneiro (1872-1930), à artista plástica Irene Carneiro de Sá Vieira Natividade (1900-1995), ao poeta e filósofo José Amorim de Carvalho (1904-1976) e à pintora Maria Helena Vieira da Silva (1908-1990), seus primos; ao Arquiteto José Carlos de Magalhães Carneiro (1931), seu sobrinho-neto.
A sua formação artística teve início na Academia Portuense de Belas Artes, onde se inscreveu aos 15 anos de idade, em Outubro de 1898, no Curso de Desenho Histórico, tendo sido aluna de Mestre José de Brito (1855-1946). Prosseguiu os estudos no Atelier-Curso do pintor portuense Mestre Júlio Costa (1853-1923), onde se integrou plenamente num grupo de artistas de várias gerações da família Costa, que incluía, para além de seu Mestre, os pintores António José da Costa (1840-1929) e Margarida Costa (1881-1937), respectivamente tio e filha de Júlio Costa. Foi igualmente discípula de Mestre José Malhoa (1855-1933), durante as estadias regulares que fazia em Lisboa, cujo aconselhamento sempre a guiou nas suas escolhas artísticas.
Tal como muitos dos artistas nascidos na segunda metade do século XIX e que se mantiveram ativos até às décadas de 40/50 do século XX, recebeu a sua formação num ensino académico dominado por uma prática tardo-naturalista, pelo que se revelou uma fiel seguidora dos valores estéticos da primeira geração destes artistas.
Dobando ao Sol 1920 |
A pintura de Amélia Carneiro reveste-se de uma importante dimensão documental e etnográfica pois, através da sua obra, podemos observar e relembrar as gentes das aldeias portuguesas, os seus rostos, os seus trajes, as suas casas e os seus costumes, na primeira metade do século XX.
A orla marítima inspirou igualmente as suas telas, quer junto do Porto (Foz do Douro e Leça da Palmeira), quer junto de Aveiro (Costa Nova). Dignos de apreço são ainda as suas naturezas-mortas e os trabalhos de temática religiosa, com destaque para os painéis dos retábulos dos altares-mores da Igreja Paroquial da Pocariça e da Capela da Casa dos Pobres de Cadima, ambas no concelho de Cantanhede.
Dedicando quase toda a sua prática artística a cenas de quotidiano, interiores e retrato, a pintora detém-se nos rostos com a ternura peculiar de quem conhece o modelo e lhe procura captar o carácter. Os detalhes do vestuário são símbolos sociais que enquadram a sua obra num contexto cultural.
Nas suas obras é perceptível a influência de Columbano, quer no tratamento da luz e do negrume dos interiores (já herdado da tradição da pintura holandesa), quer num esbatimento das formas mais próximo do impressionismo.
Torre de Menagem da Guarda 1917 |
Após a morte repentina de seu Pai, decidiu deixar o Porto e fixar residência na Pocariça, concelho de Cantanhede, aldeia a que estava ligada por laços familiares e onde passava férias desde a infância. O fascínio que sentia pela temática rural e pela pintura de ar-livre pesou nessa decisão, que determinou uma viragem na sua vida e se refletiu no rumo da sua carreira artística. Ali residiu e trabalhou de 1912 a 1941, durante cerca de três décadas, que constituíram um dos períodos mais ativos da sua carreira artística e docente.
A opção de viver naquele recanto beirão não a afastou, no entanto,
dos meios artísticos de Lisboa e do Porto, cidades onde fazia
anualmente frequentes e prolongadas estadias.
Quanto à sua carreira
docente, a mesma desenrolou-se na Pocariça, em Coimbra, em Cantanhede e no Porto.
Chegado o ano de 1941, a pintora
regressou definitivamente ao Porto, prosseguindo as suas atividades
artística e docente com assinalável êxito.
É autora de mais de quatrocentos trabalhos, entre desenhos e pinturas, representados em colecções particulares e públicas, de que se destacam o Museu Nacional de Soares dos Reis, a Câmara Municipal do Porto, a Câmara Municipal de Coimbra e a Faculdade de Medicina da Universidade de Porto.
Apresentou-se em cerca de quarenta exposições (individuais e coletivas), nos mais reputados salões de arte do País - Lisboa, Porto, Coimbra, Viseu e Estoril - , entre os quais a Sociedade Nacional de Belas-Artes de Lisboa, de cujos certames anuais era regular participante, e o Salão Silva Porto, no Porto. O seu mérito foi reconhecido com a atribuição de vários prémios, tanto de desenho como de pintura, para além de a sua obra ter sido alvo de ampla e elogiosa atenção por parte da imprensa da época.
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A pintora em 1923 |
Na primeira exposição de homenagem póstuma, realizada em 2003, patrocinada pela Câmara Municipal de Cantanhede, foram apresentados cento e quarenta trabalhos e publicado o respectivo Catálogo Maria Amélia de Magalhães Carneiro (1883-1970) - Desenho e Pintura. Em 2004 foi atribuído o seu nome a uma nova artéria da cidade de Cantanhede - Rua Maria Amélia de Magalhães Carneiro. Em 2015 a pintora foi incluída no Livro de Ouro do Município de Cantanhede, obra centrada na evocação de oito personalidades ilustres do Município, que são referências marcantes da história da cultura portuguesa.
Pela mão do Prof. António Cunha e Silva, a Câmara Municipal de Matosinhos e a Junta de Freguesia de Leça da Palmeira evocaram a ligação da pintora ao Concelho - onde viveu nos últimos anos de vida e cujas paisagens fixou nas suas telas -, através de diversas iniciativas realizadas em 2009: Conferência Ilustres Leceiros – Amélia Carneiro – Histórias do Rio e do Mar de Leça e inclusão na obra Matosinhos, as Vozes e os Gestos, dedicada aos Artistas que marcaram a vida cultural e artística de Matosinhos durante o sec. XX.
No âmbito do Ciclo de Conferências Foz Literária, iniciativa da Junta de Freguesia da Foz do Douro, coordenada pelo Dr. José Valle de Figueiredo, foi dedicada uma sessão, em 2015, às obras da pintora e dos seus familiares que marcaram a Cultura e a Arte, sob o título Quando as raízes são comuns - Pinheiro Caldas, Amorim de Carvalho, Amélia Carneiro e Maria Helena Vieira da Silva.
Em
2023 a pintora foi tema da comunicação do Prof. António
Cunha e Silva intitulada Amélia Carneiro – A estação
calmosa, integrada no Congresso Internacional Aurélia de Souza: Mulheres artistas em 1900, realizado no
Porto e em Matosinhos, no âmbito das comemorações do centenário da morte da pintora Aurélia de Souza.
O ilustre compositor e pianista António Fragoso (1897-1918), com quem a pintora sempre conviveu, dedicou-lhe em 1914 uma das suas três Mazurcas -Mazurca opus 2, n.ºII, para piano - inspirada em Chopin, um dos compositores favoritos de ambos, e deixou testemunho da sua opinião sobre a obra da pintora numa das suas Cartas a Maria de 27 de Julho de 1918:
Uma
grande artista
Venho do atelier da grande artista Senhora D. Maria
Amélia Carneiro. No meu espírito, há ainda uma profunda impressão
que me produziram alguns dos seus quadros que, não só pela beleza
dos assuntos como principalmente pela maneira admirável como são
tratados, têm merecido de todas as pessoas que os têm admirado e,
entre essas, estão quase todos os nossos grandes artistas de Lisboa
e do Porto, as mais elogiosas quanto justas apreciações. (…)
D. Amélia Carneiro
é a pintora das coisas simples. (…)
os seus melhores
trabalhos são uma expressão fiel da alma do nosso povo, apanhado em
flagrante, nas suas mais singelas ocupações de todos os dias; (…)
são cantinhos de casas rústicas, onde há manchas de sol de uma
tonalidade brilhante, que tão bem contrasta com a penumbra azulada
do interior, dando ao conjunto, a intensidade de expressão de
claro-escuro, onde palpita a vida ingénua e altamente expressiva do
povo da minha aldeia, que deve à grande artista as suas mais belas e
características fotografias. (…)
INDIVIDUAIS
1926 - Lisboa: Exposição de Pintura a Óleo, no Salão Bobone.
1930 - Porto: Exposição de Pintura a Óleo, no Salão Silva Porto.
1934 - Coimbra: Exposição de Pintura a Óleo, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Coimbra.
1937 - Lisboa: Exposição de Pintura a Óleo, na Sociedade Nacional de Belas-Artes.
1941 - Porto: Exposição de Pintura a Óleo, no Salão Silva Porto.
1946 - Porto : Exposição de Pintura, no Salão Silva Porto.
COLECTIVAS
1908 - Porto : Exposição de Arte do pintor António José da Costa, seus sobrinhos e discípulos.
1910 -Porto : Exposição de Desenho e Pintura das Alunas de Mestre Júlio Costa.
1911 - Porto: Exposição de Pintura das Alunas de Mestre Júlio Costa.
1913 - Porto: Exposição de Pintura de Mestre Júlio Costa e de suas Alunas Maria Amélia de Magalhães Carneiro, Maria Luiza Frias e Margarida Ramalho.
1910 -
1911 - Porto: Exposição de Pintura das Alunas de Mestre Júlio Costa.
1913 - Porto: Exposição de Pintura de Mestre Júlio Costa e de suas Alunas Maria Amélia de Magalhães Carneiro, Maria Luiza Frias e Margarida Ramalho.
1913 - Porto: 6.ª Exposição Anual de Pintura da Sociedade de Belas-Artes do Porto.
1914 - Porto: 7.ª Exposição Anual de Pintura da Sociedade de Belas-Artes do Porto.
1915 - Lisboa: 12.ª Exposição Nacional de Belas Artes, na Sociedade Nacional de Belas-Artes.
1916 - Lisboa: 13.ª Exposição Nacional de Belas Artes, na Sociedade Nacional de Belas-Artes.
1917 - Lisboa: 14.ª Exposição Nacional de Belas Artes, na Sociedade Nacional de Belas-Artes.
1918 - Lisboa: Exposição de Pintura a favor dos Soldados Pobres da I Guerra Mundial, na Sociedade Nacional de Belas-Artes.
1920 - Lisboa: 17.ª Exposição Nacional de Belas Artes, na Sociedade Nacional de Belas-Artes.
1922 - Coimbra: Exposição Colectiva Artística do 2.º Congresso Beirão.
1927 - Porto: Exposição a favor da Casa dos Jornalistas do Porto .
1927 - Lisboa: 24.ª Exposição de Arte, na Sociedade Nacional de Belas-Artes.
1928 - Lisboa: 25.ª Exposição de Arte, na Sociedade Nacional de Belas-Artes.
1930 - Lisboa: 1.ª Exposição Mulheres Portuguesas – Obras Femininas, antigas e modernas de carácter literário, artístico e científico, no jornal “O Século”.
1932 - Porto: Exposição de Arte a favor da Casa dos Jornalistas do Porto .
1935 - Porto: Grande Exposição de Artistas Portugueses – Trabalhos oferecidos para o Grande Sorteio Nacional de Arte a favor dos três monumentos a Silva Porto, Henrique Pousão e Artur Loureiro, a oferecer à cidade do Porto.
1936 - Coimbra : Exposição Colectiva dos Artistas da Beira.
1937 - Lisboa: 1.ª Exposição de Arte Retrospectiva (1880-1933), na Sociedade Nacional de Belas-Artes.
1939 - Lisboa: 36.ª Exposição de Belas Artes - Salão da Primavera, na Sociedade Nacional de Belas-Artes.
1939 - Estoril: Exposição no Salão do Estoril.
1942 - Lisboa: I Exposição Feminina de Artes Plásticas, na Sociedade Nacional de Belas-Artes.
1943 - Lisboa: 40.ª Exposição de Pintura e Escultura - Salão Primavera, na Sociedade Nacional de Belas-Artes.
1955 - Porto: Exposição de Homenagem a Mestre Júlio Costa.
1956 - Lisboa: 52.º Exposição de Belas Artes - Salão da Primavera, na Sociedade Nacional de Belas-Artes.
1959 - Lisboa: 55.ª Exposição de Pintura e Escultura – Salão Primavera, na Sociedade Nacional de Belas-Artes.
1960 - Viseu: Exposição de Artes Plásticas, por ocasião das Comemorações Henriquinas.
PÓSTUMA
2003 - Cantanhede: Maria Amélia de Magalhães Carneiro (1883-1970) - Exposição de Pintura e Desenho, na Casa Municipal de Cultura de Cantanhede.